Resumo:
O objeto desta dissertação é a Associação de Recicladores Cidadãos Amigos da Natureza (ARCAN). Trata-se de uma organização de catadores/as de materiais recicláveis criada em 06 de fevereiro de 2001, no Bairro Progresso, em Erechim/RS. O intento do presente estudo é descrever a referida experiência, apresentando-a como uma alternativa sócio-ambiental relativamente aos seus integrantes e ao meio onde ela se insere. A partir deste enfoque, aliado a fatores conjunturais e estruturais, foi possível chegar a formulação do título: Reciclando a (des)ordem do progresso. O texto divide-se em cinco capítulos. Parte de uma contextualização sócio-histórica da região, cidade e bairro em que a associação está sediada. Daí faz uma inflexão para o campo teórico, construindo um referencial de análise para algumas questões que perpassam a abordagem. Segue-se pautando, ainda que brevemente, a problemática do “lixo” dentro do grande e complexo tema ambiental. Um espaço maior é destinado à narrativa sobre a emergência, desenvolvimento e avaliação da ARCAN. Ajuntam-se a isso várias sugestões com vistas ao aprimoramento desta iniciativa. No centro da pesquisa está a preocupação com os quadros de exclusão social mais acentuada e com as plantas de degradação ambiental desnudada na cidade de Erechim. Dois problemas que entram em simbiose e que, de alguma forma, se estampam na figura dos catadores/as ao recolherem materiais recicláveis junto ao lixão ou pelas ruas da cidade. Uma realidade que chega a assumir espectros caóticos e evoca atitudes urgentes, conseqüentes e integradas por parte do conjunto da sociedade civil e do estado em suas respectivas instâncias. Em tal cenário, o tema do trabalho é fundamental. Por ele e através dele são determinadas as condições, as formas e os níveis de inserção social. A dignidade humana e a cidadania estão intrinsecamente vinculadas ao mundo do trabalho. É ele também que dá sustentação a um ou a outro sistema de organização econômica da sociedade. Por isso, este ensaio procura apresentar o associativismo/cooperativismo como uma alternativa (em construção) e, naturalmente, limitada, frente ao modelo capitalista baseado na economia de mercado e no consumismo insustentável. Ao possibilitar melhores condições de vida e fomentar o protagonismo sócio-político aos catadores/as, a ARCAN se constitui em uma experiência emancipatória para os indivíduos que a integram. Desembocar nesta conclusão é um desejo deste estudo. Naturalmente, isso não pode ser tomado de forma absoluta. É um processo, incluindo, portanto, conquistas, limites e desafios sempre repostos.