Resumo:
Os movimentos sociais vêm se constituindo como espaços de criação e ressignificação das práticas sociais, inclusive da educação. Desde a crítica epistemológica dos movimentos feministas, à luta histórica pela escola pública dos movimentos sociais no Brasil, o que desponta como desafio é a formulação de novas formas de construção do saber articuladas com outras formas de
organização da vida. A valorização da experiência e a emergência de um
paradigma relacional e complexo do conhecimento estabelecem as condições
epistemológicas baseadas no movimento da identidade e da alteridade, recolocando, desse modo, o tema da ética em diálogo com a prática. A solidariedade apresenta-se, então, como o saber e valor que recompõe, na expectativa de muitos movimentos sociais, a possibilidade de uma ordem social baseada no respeito às diferenças e na defesa das igualdades de direitos a partir dos princípios de reciprocidade e interdependência. Enquanto forma de conhecimento, a solidariedade requer a presença de condições epistemológicas que a instituem como conhecimento viável para a obtenção dessa nova ordem em uma perspectiva emancipatória. Tais condições estão, em sua maior parte, baseadas no questionamento do paradigma de conhecimento baseado na distinção sujeito-objeto, ao qual se contrapõe uma perspectiva integradora, multireferencial e multidimensional do próprio conhecimento e do sujeito. As condições epistemológicas são também éticas na medida em que procuram a não desvinculação das dimensões do pertencimento e da instrumentalidade, ou seja, buscam não desarticular a cultura e a economia na construção da vida e do
conhecimento. Dessa forma, a educação surge como construção do cotidiano intencionalizado por uma perspectiva formativa, ou seja, o cotidiano passa a se
inscrever como instância educacional onde a construção da solidariedade, como aposta ética e conhecimento reintegrador, torna-se meio para a construção de melhores relações humanas. O cotidiano, e o experiencial sob o qual se constitui, configuram-se em sua dimensão de prática pedagógica, no sentido em que deflagram o processo formativo de maneira intencional e mediada por saberes pedagógicos e condições epistemológicas facilitadoras da solidariedade, a partir
das várias situações de construção da vida material e simbólica dos respectivos
grupos. O estudo de caso tomou a Usina Catende Harmonia como campo empírico à pesquisa que pretendia compreender como as práticas pedagógicas contribuem para a construção da solidariedade. Baseando-se na presença de condições epistemológicas que revelam a presença de um novo paradigma nas
relações entre sujeitos, destes com o tempo, o espaço e o conhecimento, o estudo
serviu para evidenciar a forma peculiar de uma prática pedagógica solidária e
“solidarizante” desenvolvida na usina de cana-de-açúcar que, devido a este e a
outros fatores, se constitui como espaço de emancipação, ao assumir seu cotidiano como lócus de aprendizagem e produção de conhecimento.