Resumo:
Nesta pesquisa pretende-se investigar se o processo de tradução da língua portuguesa para a língua brasileira de sinais (LIBRAS) favorece o acesso ou não do aluno surdo aos conteúdos científicos do curso de nível superior ao qual o aluno pertence. Neste contexto, o foco das análises centrou-se na mediação do intérprete, uma vez que é o intérprete que estabelecerá a relação entre os conteúdos apresentados pelos professores e o aluno surdo. Para os fins desta investigação a pesquisadora acompanhou dois alunos surdos regularmente matriculados em dois diferentes cursos no ensino superior, durante um semestre letivo, em três disciplinas. As aulas foram registradas em VHS, transcritas e analisadas, sendo delineados dois blocos, considerando-se a atribuição de significado, quanto aos conceitos; as palavras-chave; diálogos; referências a autores citados pelos professores e possíveis omissões na tradução para LIBRAS. Tais análises apóiam-se nos postulados teóricos e metodológicos da psicologia histórico-cultural, especialmente nas contribuições de Vigotski e seus colaboradores. Considera-se que o papel do intérprete é fundamental no processo de construção conceitual do aluno surdo, uma vez que é por ele que o aluno terá acesso ao conhecimento. Entretanto, é preciso destacar que a função do intérprete não é a do professor. Percebeu-se que, muitas vezes não só o aluno surdo ficava em uma situação de dependência em relação ao intérprete, mas o próprio professor. Em muitas situações, o aluno surdo está apenas integrado ao contexto educativo, o que não significa que ele esteja incluído.