Resumo:
Este estudo insere-se na área de pesquisa “Formação de Professores e práticas educativas” do PPGE/UFSM, com a temática “Educação e Trabalho no Contexto da Escola Pública de Ensino Médio, em tempos de crise civilizatória: estudo de caso.” Os objetivos principais consistiram em inventariar e compreender as crises vividas, as concepções de trabalho e de educação da pedagogia capitalista, embasada na tradicional lógica do ensino transmissor e conteudista, identificando e analisando as reações e resistências, bem como a potência comum emancipatória, a partir de ações pedagógicas ressignificadas e construídas em comum. Os sujeitos da pesquisa foram alunos e professores da Escola Estadual de Ensino Médio Érico Veríssimo, de Restinga Seca, e a coleta de dados deu-se pela análise documental, questionários semi-estruturados, entrevistas semi-estruturadas e, principalmente, pela observação participante registrada no Diário de Campo. A abordagem foi qualitativa, embasada na convicção de que não só interpretamos a realidade, mas que a produzimos em cooperação compartilhada. A opção investigativa foi por uma metodologia conflitual, aberta à verificação dos eventos, unindo saber e ação e superando as concepções demasiadamente analíticas, racionais e pretensamente neutras. O estudo teve uma dinâmica que se contituiu em dois movimentos simultâneos: pesquisa bibliográfica e de campo. O referencial teórico fundamentou as informações da pesquisa de campo e esta demandou novos referenciais. Tal processo ocorreu durante todo o percurso da pesquisa e com todos os sujeitos, sem ruptura entre esses dois movimentos. Na pesquisa de campo, três aspectos a caracterizaram: o inventário sobre as opções e fazeres que a escola vinha executando, as crises e demandas dos sujeitos e as ações que foram sendo implementadas, notadamente a Expoérico. Constatou-se que a escola mantém uma estrutura que lembra a linha de montagem da fábrica fordista-taylorista, própria para reproduzir a fragmentação e o poder-sobre das hierarquias, características de uma pedagogia embasada nos propósitos da Modernidade e que adota a concepção explicadora do mundo, transmissora, doutrinadora, que subentende a menoridade e incapacidade de compreensão e descoberta emancipatória dos sujeitos, contribuindo para romper o fluxo social do fazer. Além disso, verificou-se também a existência de crises: esgotamento e despotencialização de alunos e professores, manifestados no desinteresse, fuga e indisciplina. Por outro lado, aparecem formas de “grito” como resistência contra a subordinação, normatização e dependência. Em vista das alterações no processo produtivo, concluiu-se que a escola não possui uma proposta de formação para o trabalho, pautando-se majotariamente pelos conteúdos dos vestibulares nos paradigmas do Capital e do Mercado. Apesar disso, nos fazeres da Expoérico, foi possível uma ação comum que rompeu com a estrutura disciplinar e implementou fazeres multidirecionais, diversificados, relacionais, comunicativos, emancipados em relação à forma instrutora e explicadora da pedagogia tradicional, mostrando potencial para o processo de individuação (na cooperação grupal) e construção de novas subjetividades, não submissas ao modo de ser do capital e necessárias à construção de novos modos de vida, de poder-fazer não fragmentado, de trabalho vivo e de mais comunidade