Abstract:
A qualificação na empresa tradicional condiciona-se às modificações tecnológicas no processo de trabalho. A forma despótica e autoritária como se estabelece a relação social nas empresas capitalistas faz com que a qualificação corresponda também às formas de controle e impossibilita integrar o ato de executar ao de planejar. Desse modo, o processo de reestruturação produtiva em curso tem sinalizado para a centralização das tomadas de decisões, apesar de requerer maior qualificação técnica. Tendo em vista que a qualificação remete às relações sociais, a autogestão, em princípio, ao abolir com a divisão do trabalho dentro da fábrica, assinala para a possibilidade de se pensar um novo conceito de qualificação profissional mais completo. Os trabalhadores são responsáveis pela gestão da empresa e têm que se capacitarem em um conteúdo do trabalho mais enriquecido. Assim, a educação dos cooperados torna-se questão de sobrevivência para a cooperativa. Todavia, a cooperativa reproduz muitas práticas das empresas tradicionais, entre elas a organização do processo de trabalho. Além disso, encontra-se inscrita na divisão social do trabalho e mantém relações mercantis com outras empresas independentes, o que a obriga absorver as regras e critérios de competitividade do mercado. A empresa de autogestão encontra-se em uma situação ambígua. De um lado, assinala para a possibilidade de aprofundar as relações democráticas e ampliar a qualificação dos cooperados; de outro, pode aprofundar a reprodução das práticas capitalistas e restringir a qualificação à dimensão técnica. Os dados empíricos revelaram que a Cooperjeans caminha em direção a aprimorar a qualificação dos cooperados por meio das práticas educacionais que a cooperativa desenvolve e, em decorrência disso, amplia o conhecimento intelectual, comportamental e afetivo dos cooperados.