Abstract:
As redes de relações estabelecidas na vida de cada sujeito são tecidas, dentre outros aspectos, com diferentes fios de aprendizagens. Como em toda tessitura, ora temos possibilidades de nos atrapalharmos e ora nos encontrarmos em nossos próprios fios. Contudo, o que importa é saber que a tessitura sempre se faz. Desses fios de aprendizagens, aqui tratamos daqueles que denominamos de saberes étnico-culturais, os quais são puxados/entrelaçados da/na história que vem sendo incorporada ao longo de nossas vidas. Essa história incorporada, por conseguinte, constrói-se, perpetua-se e manifesta-se na relação corpo-mundo, portanto, na corporeidade, de modo que nossas ações, como sujeitos corpóreos, são orientadas pelo nosso habitus. O habitus que nos liga a nossa sociedade de origem e produz nossas heranças. Contudo, é pertinente sublinhar que a herança entendida aqui pelo viés do habitus e constituinte em grande parte da história incorporada e da corporeidade dos seres humanos não se refere à idéia de um destino determinado e imutável, ele "é um sistema de disposições aberto, que está incessantemente diante de experiências novas e, logo, incessantemente afetado por elas" (Bourdieu, 1992, p. 108). O habitus nos fornece intencionalidades, motivações, orientações que nos fazem agentes sociais, seres expressivos, simbólicos, racionais, intuitivos, resistentes, "apreendentes". Nesse contexto, a dança, e mais especificamente a dança afro-brasileira Coco de Zambê, como nosso campo de estudo constitutivo, proporcionou-nos um mergulho em busca da compreensão dessas heranças corporais, desses saberes étnico-culturais, daí, portanto, o termo HERDANÇAS. Para isso, optamos pela tessitura do conhecimento em rede. Assim, a presente tese se estrutura na seguinte afirmação: há uma história em seu estado incorporado que perpetua saberes étnico-culturais e que é formadora/renovadora de uma corporeidade, a qual expressa esses saberes de vários modos - um deles, através da dança. Assim, a dança afro-brasileira, considerada no âmbito da educação, pode se traduzir em um dos substratos capazes de ampliar o universo simbólico, religioso, educativo e artístico da sociedade brasileira e, em particular, da população afrodescendente.