A feira agroecológica da Várzea Paraibana: práticas educativas para uma economia popular solidária

Abstract

Em mais de dois séculos de existência, o capitalismo tem se aprimorado e mostrado uma grande habilidade em responder às suas crises nos diferenciados contextos históricos. A sociedade atual vive uma crise estrutural advinda do modelo de desenvolvimento hoje hegemonizado pelo grande capital financeiro que, organizado mundialmente, tem provocado muitas mudanças no mundo do trabalho, concentrando riquezas e marginalizando a grande maioria da população. Essa população excluída historicamente tem reinventado formas alternativas de sobrevivência em todos os campos (educação, saúde, economia...) com os aportes que lhe são acessíveis, em condições sumamente adversas. A economia popular solidária, enquanto reação dos setores empobrecidos do atual sistema econômico, tem desafiado os cientistas sociais a se interrogarem sobre estratégias e paradigmas contidos nos empreendimentos econômicos solidários. A variedade e a complexidade das diferentes ações tendem a ofuscar os estudos sobre a economia solidária, dificultando uma análise mais nítida dessas ações. O processo educativo vivenciado no interior dos empreendimentos solidários pode ser a ponte capaz de direcionar essas iniciativas para além do econômico. Pode ser um instrumento privilegiado na emancipação dos setores que vivem do trabalho, articulando as iniciativas produtivas, em que o aumento de sua capacidade política pode se dar a partir das redes solidárias na perspectiva da reprodução ampliada da vida. As práticas educativas desses empreendimentos, internamente em sua relação com os diversos atores sociais, se contemplarem a autonomia e o protagonismo dos setores subalternos, podem ser o motor de um novo paradigma de desenvolvimento. Este Trabalho de dissertação teve como fenômeno estudado o processo organizativo da Feira Agroecologica da Várzea Paraibana, enquanto experiência de Economia Popular Solidária implantada pelos trabalhadores rurais das áreas de reforma agrária. O objetivo da pesquisa foi analisar as práticas educativas da Feira Agroecológica da Várzea Paraibana, na perspectiva de se conhecer os elementos da Economia Solidária presentes nessa feira. A metodologia utilizada teve como paradigma a pesquisa qualitativa. A coleta de informações foi realizada a partir de revisão bibliográfica, registros fotográficos, observação participante e entrevistas semi-estruturadas. No que se refere aos pressupostos teórico- metodológicos, optamos por fazer um diálogo a partir das contribuições teóricas de Paul Singer, Lia Tiriba, Luis Inácio Gaiger, Ademar Bertucci, Paulo Freire, Alder Julio Ferreira Calado, entre outros. A pesquisa discute a importância preponderante da educação popular como elemento principal na efetivação da economia popular solidária. O trabalho está dividido em seis capítulos, incluindo esta introdução e as conclusões. No segundo capítulo, tenta-se resgatar o processo de organização da Feira Agroecológica da Várzea Paraibana; o terceiro refere-se ao conhecimento construído sobre economia solidária, resgatando o valor do trabalho e sua presença histórica; no quarto capitulo, está contida a discussão sobre a educação popular e alguns desafios no atual contexto, enquanto o quinto capítulo é dedicado às práticas educativas da Feira para a construção da economia solidária. Por fim, são apontadas algumas conclusões acerca desse processo. Com a experiência da Feira Agroecológica da Várzea Paraibana, guardadas as especificidades locais, é possível afirmar que a efetivação da economia popular solidária tem, na educação popular, o seu núcleo central, pois para se firmar o exercício da autogestão, é preciso desconstruir o paradigma da economia capitalista hegemônico na sociedade atual, centrado no individualismo e na exploração. A Feira Agroecologica da Várzea paraibana, vem mostrar que um modo de produção humanizante tem que considerar o próprio processo produtivo. O Trabalho é re-afirmado enquanto categoria central (não a única) da transformação social. Para isso, a educação popular constitui-se um único caminho a ser construído na implementação da economia popular solidária.