Resumo:
Este trabalho, fruto de uma pesquisa visando a defesa de dissertação, tem o intuito de analisar os processos educativos dentro da perspectiva da construção identitária enquanto instrumento de afirmação social, cultural e política da comunidade do Candeal Pequeno pelo viés da luta pela moradia. A história do Candeal, especificamente, remonta à chegada, em fins do século XVIII, de Josepha Sant' Anna, vinda da África à procura de seus parentes. Aqui ela comprou terras e alguns escravos, instalou-se na região de Brotas numa pequena mata de candeias. Com seus escravos manteve relações bastante diferenciadas da preponderante ou vigente entre senhores e escravos. Em clima de relativa liberdade conquistada, depois de cumpridas as tarefas, eles tinham permissão para dançar ou tocar atabaque, elementos culturais negros rechaçados pela cultura dominante devido à associação destes com práticas do candomblé. O Candeal Pequeno, portanto, carrega uma forte identidade cultural, evidenciada, sobretudo pela sua origem afrodescendente, pela sua história e pelos laços de parentesco enraizados há pelo menos dois séculos. Este processo é responsável pelo desencadeamento de uma mobilização popular que produz e reproduz processos educacionais, por sua vez, realimentadores da força identitária, sentimento de pertencimento, e da organização social. A par deste contexto social e cultural vamos problematizar os limites e possibilidades do projeto habitacional TÁ REBOCADO enquanto portador de identidade e processos educacionais para a afirmação da comunidade do Candeal Pequeno. Enquanto referencial teórico vamos trabalhar, principalmente, com os conceitos da educadora Maria da Glória Gohn, de Manuel Castells e de Stuart e categorias, tais como: Processos Educacionais, Movimentos Sociais e Identidade (e incorporado a ela a tradição e a tradução). O trabalho de pesquisa foi realizado a partir do levantamento bibliográfico de fontes secundárias e primárias, mas também do registro de depoimentos que resgataram a memória do Candeal Pequeno pelos seus moradores mais antigos e ilustres. Importante, também, foram os contatos e entrevistas com os diversos atores/atrizes envolvidos no processo sócio-cultural da comunidade do Candeal Pequeno: tais como a ONG Pracatum, representantes de Associações de Moradores, religiosos, órgãos públicos e privados. Os desafios deste trabalho encontram-se na possibilidade de apreender os mecanismos e processos educativos empreendidos através da mobilização popular para a construção e a apropriação do espaço urbano, dando-lhe significado social, cultural e político para a partir daí poder-se abstrair conhecimentos que possam orientar práticas e políticas públicas de educação e desenvolvimento urbano.