Abstract:
A língua é viva, dinâmica. Considerando essa afirmação, investigou-se a transformação que a escrita da língua portuguesa está sofrendo devido às novas formas com que os estudantes relacionam-se com ela, a partir do contato com o ciberespaço, cada vez mais disseminado. Na presente pesquisa, a identidade cultural de estudantes usuários da internet, bem como a investigação da ocorrência da linguagem da internet (internetês) na escrita de textos escolares foram os itens analisados. O material coletado, obtido no primeiro semestre de 2005, consta de trabalhos escolares realizados por alunos do ensino médio que envolviam quaisquer textos escritos por eles que apresentassem a linguagem da internet e que circularam dentro da escola, independentemente do interlocutor, e conversas gravadas entre professora e alunos através do Messenger (programa de computador que possibilita a comunicação instantânea). Em 2006, foi realizada outra coleta de dados para ampliar a discussão sobre a identidade cultural de estudantes usuários da internet: realizaram-se entrevistas com adolescentes sobre seu contato com o ciberespaço, abordando tópicos relacionados ao uso de nickname, internetês, Orkut. A análise desse material empírico objetivou discutir quem são os sujeitos que (e onde) utilizam essa linguagem, por que o fazem e com quem se relacionam. Tais análises aproximam a pesquisa das discussões realizadas no campo dos estudos culturais em educação. Para tanto, estudiosos como Augé (1994); Bauman (2005); Candau (2001), Chartier (1999); Frago (2002); Hall (2005); Harvey (2004); Lévy (1999); Maffesoli (1987, 1995); Manguel (2004); Marcuschi (2004); Sarlo (2004) subsidiaram o embasamento teórico, privilegiando os três focos da pesquisa: identidade cultural, língua portuguesa e internet. A convivência dos adolescentes com o meio eletrônico e os depoimentos obtidos através da entrevista apontam para um redimensionamento no que diz respeito à aceitação das várias formas de utilização da língua escrita em determinados contextos e situações. Surge uma nova “gíria” na escrita, que não interfere, entretanto, no uso da língua padrão em situações em que essa forma é exigida.