Resumen:
As páginas que compõem o presente trabalho foram desenvolvidas de forma a pensar sobre a produção de subjetividade dos filhos de militantes políticos, mortos ou desaparecidos, durante o período ditatorial brasileiro (1964-1985). Com a exposição de subjetividades tão marcadas pela dor, pela perda, pelo medo e pelas incertezas, mas também pela esperança, pelo orgulho e pela luta, os "filhos da didatura" - como são identificados neste trabalho - trouxeram "novos" fatos relativos ao passado recente de nossa história, o que permitiu uma reflexão emocionada sobre os efeitos da violência - seja ela política ou social, física ou psicológica, direta ou indireta - no processo de constituição dos sujeitos. O objetivo deste estudo é discutir mais uma face do período da ditadura militar, tempo em que o Brasil foi subjugado a um regime de repressão política, promovida pelo Estado, contra o avanço comunista: o "perigo vermelo", encarnado nos sujeitos que, com coragem e ideais, enfrentaram o regime militar. Através das narraativas dos "filhos da didatura", contamos um pouco a história daqueles que estavam silenciados, mas que aos poucos se apresentam e passam a fazer parte da história viva desse período. Essas páginas são, a um só tempo, um registro documental e um desabafo coletivo. Um grupo de filhos, em busca de esclarecimentos e justiça sobre a morte e desaparecimento de seus pais, exige o respeito à identidade, à luta e aos direitos humanos desses cidadãos brasileiros que foram violentamente neutralizados em suas contestações políticas, muitas vezes com oposição armada, ao golpe instaurado em 1964. Uma parte da herança da ditadura pode agora ser conhecida com a abertura dos diários de seus filhos.