Resumen:
Esta tese tem como objetivo investigar a construção social da educação sexual em uma escola municipal do Rio de Janeiro com um núcleo de adolescentes multiplicadores (NAM). Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa etnográfica em uma escola da Zona Sul entre agosto de 2002 e junho de 2003. Nesse período, foram feitas observações dos encontros do NAM, de aulas de diversas disciplinas e, em especial, das aulas de ciências, além de reuniões, recreios, festas, passeios, entre outros. Foram realizadas entrevistas com quatro professoras/es, 30 estudantes, o diretor e a vice-diretora da instituição. Além disso, foram entrevistadas outras quatro professoras de outras escolas. O atual debate intenso sobre a sexualidade adolescente deve-se ao fato de a sexualidade ser um importante foco de investimento político e de tecnologia de governo. Nesse sentido, a escola desponta como um espaço privilegiado para o desenvolvimento do biopoder, buscando garantir, através do controle da sexualidade de crianças e, principalmente, adolescentes, um amplo impacto na população. Esta tese demonstra de que modo a educação está imbricada nessa problemática e como ela se relaciona com outras áreas do saber, como a biologia, a medicina, a demografia e a psicologia, a fim de gerenciar a sexualidade adolescente. A educação sexual tem sido realizada nas escolas, predominantemente por professoras/es de ciências, em particular nas aulas de ciências das 7ªs séries, a partir do tema reprodução humana e, em algumas escolas, dentro do NAM. Ao delimitar as distinções entre o que os/as adolescentes aprendem na escola sobre sexualidade e aquilo que aprenderam previamente, observa-se que o aprendido na escola é utilizado pelos/as alunos/as como um critério de verdade para avaliar seus conhecimentos prévios sobre esse tema. A escola lhes oferece um saber que se propõe científico e, portanto, verdadeiro sobre a sexualidade. Nessa perspectiva, o corpo humano é concebido como um organismo, vale dizer, é descrito em sua hierarquia funcional, em que cada um dos órgãos é estudado tendo como foco principal a função reprodutiva. Ganha assim destaque o corpo da mulher em relação ao do homem. Contraditoriamente, ao desenvolver a educação sexual a partir do tema reprodução, é esta que acaba sendo enfatizada, quando é justamente a ocorrência dela entre adolescentes que diversas políticas educacionais querem evitar. As intervenções escolares buscam desenvolver nos/as adolescentes um sentido de responsabilidade em torno das relações sexuais, buscando mudar ou adequar os dispositivos que estruturam os comportamentos preventivos. Para isso, além de recomendar o uso do preservativo para uma prática de sexo seguro, aconselha-se um determinado modelo de relacionamento no qual a relação sexual deva ocorrer. De modo semelhante, a gravidez desponta como uma experiência inadequada a esse período da vida.