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A escrita das ruas — a pichação e o grafite — que imprimiu nas cidades um código diferente, em especial, a partir dos anos 80, surgiu como efeito de um discurso contemporâneo que contém uma concepção forjada nas artes plásticas, na literatura, na filosofia e na história política. O objetivo deste estudo é averiguar a função do poder público em relação a tal escrita das ruas, feita pelos jovens de bairros populares da cidade de Belo Horizonte, principalmente o grafite, por meio do exame do projeto Guernica da prefeitura de Belo Horizonte. A análise dessa escrita e do discurso que a ela corresponde é empreendida a partir dos referenciais teóricos da psicanálise, em articulação com as ciências sociais. Levantam-se questões da história da arte para enfatizar a presença de imagem e letra no grafite, e das ideias de apropriação das ruas que perpassam as grandes cidades a partir da modernidade, principalmente aquelas referentes à cultura, ao espaço e à paisagem urbana. Aborda-se o modo de agrupamento dos jovens escritores das ruas em gangues, galeras, crews ou equipes em torno do discurso hip-hop, de origem nova-iorquina, para dizer da complexidade dos temas da identidade e da identificação nos grupos. Com base nas entrevistas, procede-se a uma verificação do projeto Guernica em seus efeitos sobre seus participantes e sobre a cidade. Constata-se que esses jovens buscam a ancoragem de um discurso arrojado que contém pontos da vanguarda contemporânea, com uma sustentação de ações de conotação revolucionária, que lhes dá um sentido para o mundo e propõe uma escrita que, além de servir como expressão subjetiva, presta-se à comunicação com jovens de outros países, unidos sob a mesma concepção globalizada. Contudo, esse discurso frequentemente se fecha nas próprias reivindicações e denúncias que faz, não mostrando grande eficácia em promover, por si só, as mudanças que preconiza como desejáveis. Assim, um trabalho com crianças e jovens que frequentam esse discurso não pode deixar de levar em consideração a necessidade de abertura aos outros discursos e concepções, dentro de um processo em que haja um, pelo menos, que sustente as elaborações dos sujeitos para conseguir aquilo de que necessitam, ou seja, uma escrita que dê conta de sua própria história e constituição. |
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